Compartilho aqui alguns registros que fiz dos trabalhos dos/as discentes do componente curricular Ateliê Corpos Tempos Espaços que ministrei na UFSB no quadrimestre 2023.1 para os cursos de Licenciatura e Bacharelado em Artes.
Esta experiência foi especialmente significativa para mim, porque me permitiu levar para a Universidade e para a graduação, algumas propostas de experimentação e pesquisa que venho desenvolvendo há alguns anos fora do espaço acadêmico.
A aventura de "juntar" poesia e teatro, poesia e dança, poesia e performance é algo que venho experimentando desde que morava em Argentina quando pesquisei a poesia de Juan L. Ortiz e fiz uma montagem sobre ela. Ao longo dos anos essa inquietação foi se "afinando" de diversas maneiras. A ideia de afinação me parece interessante porque remete à escolha de uma certa harmonia e à um despojar-se de outras (possibilidades). A harmonia não implica um fechamento: delimita um campo de musicalidades que incluem também a irrupção daquilo que quebra sua lógica. É uma metáfora que estou usando aqui para descrever minhas escolhas, de certa forma para mim as fotos que apresento nesta seleção captam uma harmonia, o resultado de um processo. Mas o que é ela? ou melhor, como chegou-se a ela?
Através de um processo de desconstrução e singularização da relação com o movimento. Falo de desconstrução no sentido de diluir e aligeirar as convenções e hábitos estabelecidos que direcionam a criação com o movimento à lugares pretensamente bons, belos, comunicativos e associados com concepções estabelecidas de dança... O segundo principio seria a singularização. Implica uma forma de trabalhar que demanda uma escuta e uma valorização daquilo que pulsa em cada sujeito como a expressão singular de sua experiência encarnada. "Corrompendo" um lugar comum da filosofia, diria que trata-se de redescobrir a potência do "dançar no mundo" de cada sujeito.
A poesia tem sido para mim a chave de entrada para desenvolver na prática esses dois princípios metodológicos: desconstrução e singularização.
A grandeza deste Ateliê Corpos Tempos Espaços não se mede por seus resultados cênicos ou coreográficos, ela reside em algo mais sutil e potente: na experiência de encontrar (e de brincar com) o "dançar no mundo" de cada um/a. Essa experiência é para mim a base para um processo criativo que aponta a uma poética do movimento.
Martin Domecq
21 de maio de 2023