Campo das artes é um componente curricular introdutório que é ministrado na UFSB como parte da Formação Geral. Sua  finalidade é que discentes com diversos projetos formativos possam transitar e fruir questões relativas a este campo de conhecimentos. 
No quadrimestre 2021.3, propus à turma que nos debruçássemos sobre a arte do retrato. Foi uma oportunidade impar de refletir sobre nossa relação com as imagens, sobre nossa capacidade de perceber o/a outro/a, de captar sua singularidade, de aprimorar nosso olhar para registrar os detalhes que configuram seu mundo, de promover uma aproximação ética e estética a nosso/a próximo/a...  
Foi também uma forma de sair da bolha da "autocelebração do ego" tão forte na cultura das selfis promovida nas redes sociais. O retrato pode ser um caminho inverso àquele traçado por essa cultura: em lugar de me preocupar pelo olhar dos outros sobre mim e de adaptar minha imagem para satisfazer algum tipo de expectativa, coloco meu olhar a disposição de uma pessoa que quero homenagear, cuja singularidade quero celebrar. O olhar se educa e se reconhece nesse processo de aproximação. Se as selfis muitas vezes multiplicam imagens padronizadas para competir numa vitrine virtual, os retratos descrevem aquilo que não se repete, que não se compara, que não se vende, que não se consome... Desde o mirante de um instante, a lente evoca a travessia de uma vida. Essa é a vocação narrativa do retrato.
A maioria destas imagens foram captadas com celulares. Mas o celular deixou de ser uma arma que multiplica registros infinitos de um instante vivido que se desmaterializa por uma sobrevalorização de sua exposição... O celular se converteu numa ferramenta que duas pessoas usam para juntas criar uma imagem, o pincel que desenha com a luz a aura de uma pessoa. Estas imagens nascem de um encontro, de um diálogo, de uma colaboração, de um afeto. É a vocação dialógica e colaborativa do retrato.
Mas há também, em cada um destes retratos uma outra intenção: o desejo de testemunhar, de durar, de dizer que aquela pessoa existiu e existe em nossa memória dessa forma...  O retrato não é algo destinado ao armazenamento impessoal de uma memoria digitalizada, não quer ser uma imagem descartável, não quer ser uma entre mil imagens... Cada retrato tem a pretensão de ser tão singular como a pessoa que foi retratada, como se dissesse "nesta foto está sua alma!". O retrato tem algo de nostalgia, porque antecipa a ausência da pessoa retratada, desse momento único no qual ela era assim. O retrato quer testemunhar a beleza de um ser que existe e dos afetos que ele inspira e comunica. Essa é sua trágica vocação de eternidade.

Martin Domecq
Ilhéus, fevereiro 2022.




Rita de Cássia por João Gabriel Penalva Farias
Seu sorriso revela a inocência de uma menina, ao mesmo tempo a força de uma leoa, a que ruge, a que protege seu lar e os seus, que cuida, que toma conta e afronta a quem, ou o que tente fazer mal.

Ela que aprecia a natureza em todas as suas formas, do por do sol ao nascer da lua, principalmente se for lua cheia, ela que dá vida as plantas, mesmo chegando 
cansada do trabalho todos os dias, tira tempo pra cuidar do seu jardim, pra plantar
uma nova árvore.

Ela que é misteriosa, que guarda suas tristezas, mas compartilha muito amor e
afeto, que sofre calada, ninguém nunca saberá de fato como ela está, a não ser que
esteja furiosa.

Uma guerreira natural, de espírito grande, simples, que sabe lutar pelo que é
seu. 
Seu nome é Rita, Rita de Cássia, aquela que cuida e sempre ajuda os que precisam. Uma imperatriz no seu castelo, no seu mundo de luz e natureza.
O quanto o tempo passe, você sempre será aquela menina pura que sempre foi.
Ela é minha mãe, meu orgulho, o exemplo perfeito da força de uma mulher.

João Gabriel Penalva Farias
Cefas de Almeida por Sabrina Bisbo de Oliveira
Cefas De Almeida teve uma infância muito conturbada devido alguns problemas que existiam dentro de sua família. Apesar destes acontecimentos, em sua juventude ele nunca demonstrou ser uma pessoa triste, muito pelo contrário, o mesmo estava constantemente com um sorrisão no rosto, sempre tratando todos muito bem e com respeito, principalmente seus pais. Resumidamente, aonde chegava fazia amizades com pessoas de qualquer idade.

Dentre tantos amigos que ele tinha, meu irmão era um deles, e foi assim que nos conhecemos. Muitas pessoas não acreditam em amor à primeira vista, não os julgo, eu também não acreditava. Mas Cefas acreditou por nós dois, ele foi me conquistando aos poucos e quando eu percebi já estávamos juntos.

O que realmente me fez perceber que ele era o homem ideal para mim foi a forma como ele tratava a mãe dele, sempre fazia de tudo pra ver ela feliz. E minha mãe sempre me dizia:
- quer conhecer um homem? Conheça a família dele, a maneira que o rapaz tratar a mãe dele, será a forma que ele lhe tratará.

E assim se sucedeu, ele sempre me tratou bem, com muito amor, carinho e companheirismo e tudo foi tão recíproco que ao longo da nossa relação criamos uma incrível conexão. Claro que houve muitos dias de tempestade durante o caminho em que percorremos juntos, afinal, ele utilizava seu sorriso e amizades para ocultar tudo aquilo que realmente ia em seu íntimo. Entretanto, ele decidiu que de uma vez por todas encararia todos os sentimentos negativos que existiam em seu coração, e ele não fez isso sozinho, pois nosso lema é: somos nós dois contra o mundo inteiro.
Sabrina Bispo de Oliveira
Elisabel Santos Cruz por Tatiana Santos Cruz
Esta é minha “mainha”, seu nome de batismo é Elisabel Santos Cruz, porém, é mais conhecida pelo apelido de Dadá. Uma mulher de 63 anos que apesar dos perrengues por ela enfrentados, nunca perdeu a alegria de viver. 
Filha terceira dos sete filhos que seus pais tiveram. Levava uma vida árdua, de muitas dificuldades e consequentemente uma infância dura. Seu pai era um homem autoritário, rude e impiedoso, a ponto de proibir os filhos de estudar e os forçarem a trabalhar, entre esses, os de colocá-los para pedir esmolas, agredia a mãe dos seus filhos, até se desfez de uma filha, uma figura que andava sempre bem apanhado, entretanto, sua família passava por várias necessidades. Dadá presenciou por várias vezes sua mãe apanhar do seu pai, a mesma fala saudosamente do quanto era doce sua mãezinha e o quanto ela se desdobrava lavando roupa de ganho pra poder colocar o alimento na mesa para os filhos. Em tempos mais difíceis, até fome passaram e perdurava o costume pedinte.

Aos sete anos de idade, Dadá foi trabalhar em casas de famílias, a partir daí, começaria uma saga, de estar servindo os outros (empregada doméstica), tomando contas dos outros (babá), para poder ajudar em casa. Sua vida se aniquilaria nos sonhos e nas oportunidades melhores, pois a virtude de ser criança lhe foi roubada e o direito de estudar lhe foi ceifado.

Dadá cresce e torna-se mulher, ainda trabalha como doméstica, e engravida da sua primeira filha. Inúmeras decepções acontecem e lá vai ela, criar sua filha sozinha, porém com a ajuda da sua mãe e de suas irmãs. Uma grande mulher, que a todo instante batalha para o sustento de todos. Com o passar do tempo, Dadá reestrutura sua vida sentimental e casa-se, formando uma nova família, com mais filhos e a dedicação de sempre. Cria seus filhos com pulso firme, tudo na base do respeito. Mais uma vez o tempo passa; os filhos de Dadá crescem, casam e lhe dão netos. E a prova que realmente tenho, não é só a que a minha mãinha é a melhor mãinha do mundo mas também a melhor vó do mundo.
Tatiana Santos Cruz
Dona Maria Célia por Vânia Vidal
Dona Maria Célia no amanhecer de mais um dia ao contemplar o raiar do sol, meu doce de mãe, já começa a cuidar do seu lindo quintal! Espaço aconchegante que a faz relaxar e refletir sobre a vida...Essa prática diária é uma reconexão com seu bem estar, pois a partir daí encontra forças para seguir mais um dia, ao indagá-la sobre a importância das suas plantações , Ela me respondeu: 
"Plantar é vida, uma simples distração carregada de diversos significados de extrema importância para minha sobrevivência, me encontro com a natureza e as formas de cuida- lá e amá-la nesse propósito tenho a felicidade de ter uma horta e diversos caqueiros que me trazem  paz e alegria, também é uma terapia pois Ela conversa com todas as suas plantinhas. Enfim um amor inexplicável..."
Ela sempre se reinventa em seu lugar de cultivo com a natureza, tirando da sua belíssima plantação alimentos para consumir em suas refeições diárias... Mas o que realmente lhe interessa e o que a natureza lhe oferece em forma de  multiplicidade de novos horizontes em sua caminhada, Ela sempre relata que o convívio com as plantinhas e tudo o que a terra oferece é uma diversidade de aprendizagens, pois, além de purificar o seu " eu interior", abrangem profundidades de reconhecimento de toda sua trajetória. Lembra da sua doce infância que foi um período marcante ao longo da sua vivência onde morava em uma fazenda acompanhada da sua família e  todos eram felizes com o que a terra lhes oferecia em forma de beleza e natureza... Ela com os seus irmãos brincavam em meio ao ar livre, onde tinha total liberdade para se banhar no rio e correr entre as plantações desse lugar fantástico onde foi a sua criação... A vida nessa fazenda era bastante divertida, entretanto durante o seu dia tinha tarefas: lavar pratos no rio, pegar água no rio com a lata na cabeça, varrer o quintal, molhar as plantas, manhã e tarde... 
Ainda criança aos 11 anos assumiu a responsabilidade dos afazeres do seu lar, pois sua mãe já não tinha mais saúde para cuidar dos afazeres da casa e de seus irmãos ainda pequenos, em sua rotina de sobrevivência passou a criar hábitos de pessoa adulta, tendo que conciliar casa e escola. Para ter direito aos estudos tinha que caminhar 4 quilômetros com seus pequeninos irmãos diariamente para ir e vir para o seu local de aprendizagens. Nessa árdua caminhada criou princípios e conceitos para se tornar uma professora leiga pois conseguiu fazer admissão ao ginásio o que lhe deu oportunidade de lecionar em uma fazenda próxima a sua habitação onde começou a sua profissão de professora dos 16 anos até os 25 anos… 
Depois desse período abandonou a profissão para cuidar da sua mãe na cidade. Anos mais tarde conseguiu ter sua própria escola de banca que só parou de dar aulas quando passou em um concurso público e se tornou merendeira e hoje está aposentada.
Vânia Vidal
Maria de Lourdes Viera dos Santos (Maria de Alvino) por Debora Santos Barro
Uma mulher indígena nascida no dia 12 de abril na cidade de ilhéus-Bahia
do ano 1953. Moradora da comunidade indígena que fica localizada a
30km do centro da cidade. Ela é também conhecida como Maria de
Alvino, com quem é casada há maior parte de sua vida... 
O casal teve nove filhos, porém dois foram vitimas de homicídio dentro do território indígena. Apesar das circunstancias, Maria sempre correu atrás da alimentação de seus filhos, vivendo da agricultura familiar, levando seu caminhar um pouco mais pesado ao decorrer da vida. A infância não foi fácil, ela não teve a oportunidade de estudar, tampouco de construir um futuro diferente do atual. Desde nova trabalhou na roça pegando pesado e aproveitando pouco seus anos moços em virtude de ter que ajudar seus pais.

É visivelmente notória a aflição de Maria nesse retrato. Em seu olhar da pra sentir a tristeza e solidão de uma mulher indígena devastada e exausta do caminhar da vida. Uma mulher que lutou por seus filhos e sofreu muito por não ter recebido a justiça que eles mereciam. 

Maria é muito querida e acolhida por todos, atualmente cuida de seus netos e mora em uma roça um pouco distante da aldeia.
Debora Santos Barros
Gilmar por Ana Carolina Assunção Silva
Essa é minha doce e amada “voinha” apelido de que a chamo desde criança. Mulher forte e guerreira, seu nome é Gilmar, 80 anos de puro conhecimento e sabedoria, sempre batalhando durante sua vida.
Apaixonada quando mais nova pelo seu trabalho de ensinar, teve sua filha na juventude e perdeu seu marido logo após. Sempre se dedicou a sua filha e seus netos, hoje ela gosta de passar seu tempo com a gente e nos finais de tarde passa recordando o seu passado, ao seu lado sempre está sua fiel companheira Lili.
Ela é uma grande inspiração para mim.
Ana Carolina Anunciação Silva

Joana por Elis Sampaio
Joana, 10 anos. Uma Ipiauense que ama praia, piscina,
rios  e se tem chuva ela corre para ir se molhar! 
Criança  que nos ensina com a sua inocência a real forma de viver a vida, que é sendo feliz. Ela que traz consigo um sorriso largo no rosto e cativa as pessoas ao seu redor com a sua maneira de viver a vida e o amor que existe nela. 
Joana é amor, é alegria, é felicidade é carinho, é afeto, é quem ensina que a simplicidade  é a melhor forma de aproveitar a vida, que não  é preciso muito para ser feliz!!!
Elis Sampaio
Jaqueline Sales Barreto da Silva por Franciane Barreto da Silva
Jaqueline Sales Barreto da Silva (minha mãe) dona de casa, uma mulher forte,
corajosa, amorosa uma ótima mãe...
Desde nova, enfrentou muitos desafios pois na época da sua infância, adolescência as coisas não eram fáceis: os bens materiais não eram muitos... Casou muito nova e logo após engravidou de mim. Nessa época teve que parar os estudos por algum tempo. Mas, logo após que eu cresci um pouco, ela retomou os estudos e conseguiu concluir...Ela sempre me incentivou a estudar, a lutar pelos meus objetivos e a nunca desistir. 
Após o nascimento da minha irmã mais nova ainda ficou mais nítido o cuidado
o amor dela por nós... O que ela mais gosta de fazer é cuidar de suas plantas,
acompanhar o crescimento delas, esse gosto, esse cuidado ela herdou da sua
mãe que sempre cuidava e regava das suas plantas.

Além de tudo, considero ela como uma mulher dedicada, excelente mãe...
Apesar do seu jeito recatado mas tranquilo, ela sempre me passou uma
imagem de uma mulher forte, que nunca desistiu e sempre me incentivou a não desistir... Por tudo isso, minha mãe é a minha maior inspiração.

Franciane Barreto da Silva
Cosmira Ribeiro de Lima Nogueira por Karina Lima Nogueira
Não tenho data precisa, mas nascida em 27 de setembro de 1967; foi abandonada pelos pais ao nascer.
Criada por tios, Cosmira Ribeiro de Lima Nogueira; desde pequena sempre foi uma criança diferente, chegou com dois dentes.
Tempo passa e ela se casa, cria seus filhos e trabalha; professora, cozinheira, fez nutrição. Hoje ela é formada.
Pelo sim e pelo não, a química explica o porque de tanta confusão; brigamos por aproximação.
De todos, SEU CHEIRO é o melhor que senti! Gostaria de comprá-lo para ter sempre que não estiver perto de mim!
Entre tapas e beijos, me dá seus conselhos de tudo que não posso e que devo fazer.
És paciente, tolerante; cuida de mim. Mas  diz que morrerei de fome, porque as coisas não quero aprender.
Entre madrugadas e feriados, trabalhou  por todos. Se Deus tivesse me permitido escolher, gostaria de ainda não ter nascido para ter ficado mas tempo com você.
Caráter é construído, ensinastes desde o nosso princípio.
Se  teus olhos vissem o que os meus veem, saberia que você é meu  motivo de tanto correr.
Corria da escola no final da aula, porque gostava de  ver gritar meu nome na porta de casa, de me  repreender por não comer.
Teus cabelos brancos, rugas e tudo que o tempo ti entregou; nada mudou, para me sempre será linda.
Sei  meu AMOR, que em algum momento nosso dia será triste, cinza  ficará nosso céu; cairá gelo e este pão, este que hoje comi, não será mas feito por ti.
Ás vezes sem que perceba, á observo; para no dia certo desenhá-la na memória. Para que este tempo cruel não me roube você!
Até lá, permita Deus que você grite, brigue comigo, mas que eu a tenha assim, sempre perto de mim.
Karina Lima Nogueira
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